sexta-feira, 17 de junho de 2011

Des.Encontros


Em meio a livros encaixotados, roupas em malas, pratos e copos embrulhados, num caótico, mas delicioso mundo novo encontrava-se ela, unhas por fazer e um sorriso estampado a cada coisa que colocava no lugar, porta-retratos, lembranças antigas num lugar completamente novo.
Pegou o único casaco que encontrava-se ‘não tão amarrotado’ e decidiu sair pra olhar a cidade, era outono e uma leve brisa roçava seu rosto, então resolveu entrar num velho pub, de onde podia se ouvir um velho e bom blues e suas profundas notas de nostalgia.
Ela não conhecia ninguém, era uma fascinante e de igual forma assustadiça experiência, não se podia ver naquele lugar nenhum resquício de nada que a remetesse a algo familiar, exceto pela música, embriagante. O blues sempre lhe fascinou, porque naquela estrutura repetitiva emergia expressividade absurdamente envolvente. Sentou-se num canto e submergiu à música, quando pode ouvir algo que destoava:
“Posso sentar-me?” Disse ele já puxando a cadeira vazia logo ao lado.
Trocaram sorrisos e iniciaram uma experiência de fascínio mutuo. Ela ainda estava descabelada, e nitidamente descompromissada em parecer a perfeição em pessoa, pediu um drink e ele a acompanhou. Ela falava sobre a música e ele pensava: “Ela bebe Vermouth”.
Era intrigante a forma como ela falava, como sorria ao descrever as coisas que gostava e o que lhe trouxera ali e em meio a isso tudo ele só conseguiu dizer um “ também gosto de chuva..” Ela riu alto, pois já havia um tempo que falara sobre isso, mas deixou de lado, “vou ali e já volto’, disse.
Então ele percebeu o quanto poderia ter parecido tolo e também pode notar o quanto aquele lugar estava cheio quando ela sumiu na multidão. Seu corpo todo tomou vestes de angustia e desapontamento sobre si mesmo, “onde ela foi?”, “será que ela volta?”, levantou-se de súbito e perdeu-se na multidão a procurá-la no mesmo instante que ela voltava à mesa acompanhada de outra dose e um sorriso que se desmantelou vagarosamente. Sentou e apreciou as notas suaves de absinto embebidas em vinho ao som de Bonnie Raitt.
Ele num outro canto mostrou-se desapontado e decidiu ir embora, já teria sido patético o bastante para aquele dia, entrou no carro e logo pensou: “espero que seu Vargas ainda esteja na portaria, perdi minhas chaves”, estacionou e subitamente lembrou onde as havia colocado.
Ela levantava-se da mesa enquanto ele era levado pelo elevador, num suspiro mutuo escapou lá e cá: “que pena”.
Ela pegou seu casaco e caminhou pelas ruas já adormecidas e silenciosas até seu novo refugio, ao chegar, abriu a porta do condomínio e disse àquele bondoso porteiro que antes lhe ajudara com a mudança: “Tenha uma boa noite seu Vargas...”

Janaina Campos


(imagem retirada de collectorsroom.blogspot.com)

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