quinta-feira, 26 de maio de 2011

Janelas da Alma


JARDIM, João; CARVALHO, Walter. Janelas da Alma. Rio de Janeiro: Europa Filmes, 2002.100min.

Resenhado por PEREIRA, Janaina Aparecida de Campos.


João Jardim e Walter Carvalho abordam de forma brilhante em "Janela da Alma", as sensações que dezenove pessoas com diferentes graus de deficiência visual têm em relação ao mundo, da idéia do desconhecido. O elenco é constituído, em grande parte por grandes personalidades e o filme intercala imagens nítidas e desfocadas.
A primeira impressão que se tem ao assistir o filme é a de que o assunto restringe-se à visão, e sobre como pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual absorve o mundo. No entanto, o filme propõe mais.
O filme aborda questões humanas, fazendo-nos voltar para nosso interior, a fim de que possamos perceber as coisas de maneira muito mais ampla e profunda, tendo por resultado, um filme enriquecedor do ponto de vista sensitivo e visual.
Ao assistirmos Janela da Alma, podemos entender a deficiência como eficiência; Já que quando se é privado do sentida da visão – mesmo que em partes – passa-se a abordar o mundo a partir de uma visão própria.
Segundo Win Wanders, importante cineasta alemão, “A maioria das imagens que vemos estão fora de contexto (...) Ter tudo em demasia significa não ter nada. Temos tanta imagem que não prestamos atenção em nada”. Tal afirmação, leva-nos a perceber que num mundo onde há muitas informações visuais, as informações passam a não ter uma simbologia própria, isto é, não interpretamo-las, tampouco usamos a imaginação para tanto.
Neste mesmo sentido, Saramago observa: “Fiz-me a pergunta: e se fôssemos todos cegos? E no momento seguinte, eu logo me respondi que estávamos todos cegos da razão”. Ou seja, não temos mais a nossa autonomia de pensamento, não usamos nossa imaginação.
Por trás de toda essa forma sensorial de ver o mundo, há uma série de descobertas que modificam a forma de receber as informações do mundo, como o caso de Arnaldo Godoy, que conhece o trajeto de sua casa e demais endereços tendo como referencial, o número de subidas e descidas das ruas Na seara de descobertas, surpreendeu-se quando lhe contaram que as árvores eram compostas por folhas individuais; para ele, “antes elas eram todas uma massa”.
Cada depoimento do filme vem eivado de descobertas, sentimentos e sobretudo, lições de vida e ensinamentos. Um a um dos personagens desse documentário, traz consigo, algo que a maioria das pessoas deixa adormecido, o anseio de ver o mundo com a alma.
Cego desde seus 12 anos de idade, o fotógrafo Eugen Bavcar ensina-nos que “é preciso saber existir através de si mesmo e não dos outros”, ou seja, é necessário que tenhamos nossa própria forma de entender e viver o mundo, a partir de nossas experiências, haja vista que tudo evolui de forma muito rápida e as informações multiplicam-se e modificam-se a todo o momento.
O filme é, portanto, uma experiência profundamente enriquecedora ao expectador, pois não se trata de um mero documentário. É muito mais amplo e irrestrito, trata da alma do indivíduo e ensina-o a receber o mundo com suas informações intrínsecas. É encantador.

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